Psicóloga explica sobre a relação desse transtorno com a saúde mental e como tratá-lo corretamente.
A compulsão alimentar é um problema complexo que afeta muitas pessoas em todo o mundo. Para abordar eficazmente esse desafio, é essencial compreender o que é e como ela pode impactar a vida de quem a enfrenta. Muitas vezes estigmatizada, essa condição pode caracterizar um sofrimento tanto para a pessoa quanto para a sua família.
Além disso, a pesquisa revela que a maioria das pessoas que enfrenta esse transtorno não procura ajuda profissional, o que ressalta a importância de conscientizar sobre essa condição e os recursos disponíveis para tratamento.
O que é a compulsão alimentar?
De acordo com a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica, a compulsão alimentar é caracterizada pela necessidade de consumir grandes quantidades de alimentos, mesmo quando não se está fisicamente com fome.
“Esses episódios podem ser intensos, muitas vezes acompanhados por uma sensação avassaladora de descontrole. Para ser considerada compulsão alimentar, esses episódios devem ocorrer pelo menos duas ou mais vezes por semana”, explica.
A compulsão alimentar tem raízes profundas em fatores emocionais e comportamentais. Frequentemente, as pessoas recorrem à comida como uma maneira de lidar com emoções difíceis, como estresse, ansiedade, solidão e tristeza.
“Durante os episódios de compulsão, as emoções costumam ser obscurecidas, e a comida se torna um mecanismo de alívio para esses sentimentos negativos. O isolamento social, a tristeza e a culpa muitas vezes acompanham a compulsão alimentar, tornando-a uma condição complexa”, explica a psicóloga.
Sintomas da compulsão alimentar
Os sintomas da compulsão alimentar são variados, mas todos eles envolvem uma sensação avassaladora de descontrole e falta de capacidade de interromper o consumo de alimentos. Segundo a psicóloga, entre os principais sintomas, estão:
- Comer mais rápido que o normal;
- Alimentar-se quando não está com fome ou continuar comendo mesmo saciado;
- Comer escondido;
- Sentir-se triste ou culpada (o) por estar comendo.
“A compulsão alimentar pode afetar a aparência física, ter consequências emocionais e impactar severamente na interação social da pessoa”, explica Vanessa Gebrim. Segundo a especialista, isso acontece porque o paciente pode apresentar vergonha ou medo de passar pelo descontrole alimentar na frente de outras pessoas.
Gatilhos para as compulsões
A compulsão, muitas vezes, é despertada por eventos traumáticos ou mudanças emocionais drásticas que afetam a saúde mental. Mudanças emocionais como términos de relacionamento, situações de aflição e angústia estão ligados à compulsão alimentar.
Influências de fatores externos
A saúde mental estar tão atrelada aos nossos hábitos alimentares está diretamente ligada a séculos de criação de um ideal de beleza inexistente e tóxico. Tentar constantemente se encaixar nos padrões de beleza também pode levar ao desenvolvimento de outros problemas alimentares como bulimia e anorexia.
“O tempo todo, nas redes sociais e mídia, surgem novas dietas seguidas por modelos e atrizes, na maioria das vezes muito magras, associando magreza à saúde. No entanto, essa é uma ideia distorcida de corpo saudável e a privação de comida com o objetivo de emagrecer pode gerar episódios de compulsão”, aponta a psicóloga.
Formas de tratamento para a compulsão alimentar
Além do acompanhamento médico, a recuperação do paciente com esse transtorno está ligada à reconstrução de sua autoestima. “O melhor método é fazer psicoterapia e também frequentar grupos de apoio. Ao descobrir que não está sozinho – contando com uma rede de pessoas que lhe entendem e acolhem – você renovará suas forças para enfrentar a compulsão alimentar”, aconselha. Ainda assim, o apoio da família e amigos é essencial para voltar a amar seu corpo.
“Colocar-se à disposição para ajudar: em muitos casos pode haver a necessidade de redução temporária de alimentos na casa que causem possíveis gatilhos em quem tem compulsão alimentar, e isso altera – e muito – a rotina da casa. Por isso ter paciência, e respeitar esse período será fundamental”, explica a psicóloga, que acrescenta: “Sabe aquele pudim que a família ama? Aquele passeio naquela padaria? Talvez seja um fator muito delicado para a pessoa em tratamento. Que tal dialogar sobre o cardápio familiar e chegar em acordos? Isso inclusive pode ser construído em sessão com a nutricionista”, finaliza Vanessa Gebrim.
Por Isabella Rocha