Em entrevista ao ‘Jornal Nacional’, ex-presidente disse não querer ‘PGR amigo’, chamou orçamento secreto de ‘excrescência’ e explorou feitos de seu governo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi o terceiro entrevistado da série do Jornal Nacional, da TV Globo, com candidatos à presidência da República. A sabatina com o líder das pesquisas de intenção de votos aconteceu nesta quinta-feira, 25. Como a Jovem Pan antecipou, entre os membros da equipe de campanha do petista e dirigentes do partido, a expectativa era otimista para a sabatina, com foco em aproveitar a oportunidade para falar relembrar legados, o que realmente aconteceu. Temas como inclusão social, queda nos índices de desemprego, inflação e dívida pública, e bom relacionamento internacional, por exemplo, dominaram a entrevista, que teve início, no entanto, com uma pergunta sobre corrupção. Lula disse ter sido “massacrado” por cinco anos após a Operação Lava Jato, avaliou a atuação do ex-juiz Sergio Moro e falou sobre o que pretende fazer para que novos escândalos não aconteçam. “Só existe uma possibilidade de alguém não ser investigado: não cometer erros. Se alguém cometer erros, investiga, apura, condena ou absolve. (…) Vamos continuar criando mecanismo para investigar qualquer delito na máquina público. A corrupção só aparece quando governa de forma republicana e permite que sejam investigadas, independente de quem seja.”
O ex-presidente também citou diversos mecanismos contra a corrupção criados durante os governos petistas, como Portal da Transparência, lei de acesso à informação, lei anticorrupção e lavagem de dinheiro, por exemplo, mas reconheceu desvios que ocorreram na Petrobras. “Não pode dizer que não houve se as pessoas confessaram e ficaram rico por confessar, não só ganhava liberdade, mas também metade do que roubou. Foi uma delação premiada. (…) A gente olha o que devolveram, mas vamos olhar os prejuízos, 4 milhões de desempregados, R$ 270 bilhões deixaram de ser investidos”, afirmou o ex-presidente. Adiante, Lula foi questionado sobre como recuperar a economia do Brasil. Ele citou números de seus governos anteriores e prometeu recuperar o crescimento do país com foco em três palavras “mágicas”: credibilidade, previsibilidade e estabilidade. “Tem que garantir que quando falar, as pessoas acreditem. Ninguém pode ser pego de surpresa por uma mudança do governo e estabilidade é convencer que empresários tenham condições para fazer investimentos”, defendeu. Segundo o petista, o foco será reestabelecer as políticas econômicas feitas em seus dois mandatos, admitindo que erros foram cometidos na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff e que não devem acontecer. “Cometeu equívocos na questão da gasolina, quando fizemos R$ 540 bilhões em desoneração. (…) Vou voltar a governar para fazer melhor do que eu fiz, a minha obsessão, um homem de 76 anos de idade é porque acho que é possível recuperar esse país”, acrescentou.
Na sequência, a apresentadora Renata Vasconcelos indagou o candidato a respeito da sua escolha, se eleito, para o cargo de procurador-geral da República, atualmente ocupado por Augusto Aras, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e muito criticado por suposta parcialidade em suas decisões pró-governo. Neste sentido, Lula afirmou que não planeja antecipar quais critérios serão utilizados para a escolha, mas garantiu que não quer um “PGR amigo”, assim como não tem interesse em ter amigos no Ministério Público e na Polícia Federal. “Quero pessoas competentes, ilibadas, republicanas e que pensem no povo brasileiro”, antecipou o candidato do PT. “Não quero um procurador leal. Ele tem que ser leal ao povo, à instituição”, completou. Lula também se posicionou contrário ao chamado Orçamento Secreto, como são conhecidas as emendas de relator. Ao ser questionado sobre como governar sem a presença do Centrão ou essas moedas de troca, o petista reconheceu que a relação com o Congresso Nacional é inerente da função presidencial, mas chamou a destinação paralela de recursos de excrescência e usurpação do poder. “Bolsonaro não manda em nada. Ele é refém do Congresso Nacional, sequer cuida do Orçamento. Quem cuida é [Arthur] Lira, ele que libera verba. Isso nunca aconteceu desde a proclamação da República. (…) Bolsonaro para um bobo da Corte, não coordena nem o Orçamento”, afirmou o ex-presidente, que disse considera as emendas um escárnio.
A última vez que Lula esteve no Jornal Nacional foi em 2006, quando tinha como principal adversário o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), atual candidato a vice-presidente em sua chapa. A aliança com o ex-tucano foi citada com bom humor pelo petista em diversas ocasiões da entrevista e o ex-presidente chegou a afirmar que tem até “ciúmes” do vice por ter sido aceito de “corpo e alma” pelo Partidos dos Trabalhadores. “Tenho 100% de de confiança que a experiência de como governador e vice vai ajudar a consertar esse país”, reforçou. Questionado sobre a polarização e a disputa antiga entre ambos, que por diversas vezes trocaram acusações, Lula disse que isso faz parte da política, afirmou que a militância é como uma torcida organizada e reforçou sua confiança no candidato a vice-presidente. “Feliz era o Brasil e democracia quando a polarização era entre PT e PSDB. A gente era adversário político, trocava farpas, mas não tinha problema, a gente não se tratava como inimigo, era adversário. (…) “A polarização é saudável, estimulante, faz a militância ir pra rua, carregar bandeiras, o importante é não confundir polarização com ódio”, acrescentou.