Marcelo Suano, professor do Insper, criticou a condução da entrevista pela falta de debate sobre projetos do governo
Assim como a Jovem Pan News, a Rede Globo também começou a realizar uma série de sabatinas com os candidatos à presidência da República. Nesta segunda-feira, 22, o Jornal Nacional recebeu o presidente Jair Bolsonaro (PL). Na entrevista, foram discutidas as medidas adotadas durante a pandemia e o candidato foi questionado a respeito das críticas às urnas eletrônicas. Na ocasião, Bolsonaro deixou claro que vai respeitar as eleições apenas se forem limpas e transparentes. Para comentar a sabatina, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o cientista político e professor do Insper, Marcelo Suano. A respeito do clima da entrevista, o especialista criticou a confrontação direta ao presidente e a falta de debate a respeito dos projetos do governo: “O que nós vimos foi uma perda de oportunidade muito grande da Rede Globo de poder apresentar para o público o que se deseja, um debate sobre projetos, a possibilidade de avaliar a coerência e tentar separar o amador do profissional… Foi uma perda de tempo porque ficou muito claro para o público que ali não estava uma entrevista acerca do que se espera de um presidente da República. A entrevista foi transformada em um processo de interrogatório inquisitorial”.
“A Rede Globo acabou mostrando a sua perspectiva. Interrupções, forma inadequada de se referir ao candidato e um embate cheio de condicionais. Por exemplo, quando ele diz ‘respeitarei o resultado das eleições se forem limpas e transparentes’, isso é uma condicional que é positiva para a perspectiva do presidente, porque esse é o seu discurso… Houve a perda de oportunidade de trazer nível, um nível cada vez maior que se espera de um processo eleitoral em que os candidatos apresentem propostas de governo. Ficou um embate muito claro entre dois inimigos, e essa postura de inimizade foi vinda da Rede Globo, que chegou diretamente e pressionou. No início, parecia que o presidente Bolsonaro iria cair em uma armadilha, quando ele disse ‘isso é fake news’. Mas isso é de menos importância na forma como ficou configurado. Se você observar de uma forma bem fria, não houve alteração das perspectivas e, muito menos, daquilo que se esperava dos núcleos que já estão definidos. No entanto, me parece que o presidente acabou muito melhor a entrevista do que ele chegou. Recebeu um embate muito forte de indivíduos que se posicionaram como inimigos”, analisou Suano.