Nicarágua foi o único país que, além de não assinar a declaração da Cúpula Celac-UE, que demonstrou ‘profunda preocupação’ com a guerra na Ucrânia, também apresentou ressalva, o que vetou o texto final.
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, criticou nesta quinta-feira, 20, a União Europeia por insistir na presença de Volodymyr Zelensky e chamou o líder ucraniano de fascista e nazista. “Nesta reunião da União Europeia com a Celac, queriam incluir o fascista, o presidente nazista da Ucrânia, que ele estivesse lá” e depois apresentar uma declaração sem consenso sobre a Ucrânia, disse Ortega em um discurso no principal evento de comemoração dos 44 anos do triunfo da revolução sandinista. A Nicarágua não assinou o documento em que há uma declaração conjunta dos países europeus e latinos americanos manifestando “profunda preocupação”, mas sem citar a Rússia, após negociações sobre o texto que não receberam o aval da Nicarágua. “Expressamos profunda preocupação com a guerra atual contra a Ucrânia, que continua a causar imenso sofrimento humano e exacerba fragilidades existentes na economia global, impedindo o crescimento, aumentando a inflação, interrompendo cadeias de suprimento, aumento a insegurança energética e alimentar e elevando o risco de estabilidade financeira”, diz o texto, em que as nações dizem apoiar a “necessidade de uma paz justa e sustentável”.
Além de se posicionar contra a Ucrânia, Ortega também foi o único líder que apresentou ressalva a declaração final. No pé da décima página do documento está: “declaração foi apoiada por todos os países, exceto um, devido suas desavenças com um parágrafo”. A resistência quase vetou o texto final, já que é preciso haver unanimidade para sua assinatura, impasse que só foi destravado após um grupo de chefe de Estados se reunir em uma sala para tentar chegar a uma solução. “Há um princípio nestas reuniões, as resoluções devem ser tomadas por consenso se alguém se opõe, não passa”, disse Ortega em um discurso de mais de uma hora e meia. A recursa do nicaraguense em assinar o documento e falta de clareza de alguns países da América Latina sobre o que está acontece na Ucrânia, foi criticado pelo esquerdista e presidente do Chile Gabriel Boric no último dia de reunião. Ele disse que se não houve uma declaração final na cúpula, era porque alguns países tem dificuldade em aceitar o que acontece no Leste Europeu há quase dois anos.
Ortega também falou sobre a situação na Venezuela e criticou o fato da UE não por fim às sanções ao país de Nicolás Maduro e ao seu. “Propusemos que também fosse redigido o acordo para pedir o fim da política de agressões, sanções contra Cuba, em primeiro lugar, Venezuela e Nicarágua. Não aceitaram incluir Venezuela e Nicarágua”, disse Ortega. Milhares de pessoas compareceram ao ato do governo na Praça da Dignidade Nacional de Manágua, onde exibiram bandeiras da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN). No evento, Ortega elogiou o líder líbio assassinado Muamar Khadafi, que segundo ele “era um apoio na região, pressionava pela unidade dos povos árabes”. “Não podemos esquecer Khadafi (…) se solidarizou com a Nicarágua e nos deu solidariedade incondicional”, afirmou, antes de acrescentar que os Estados Unidos e seus aliados europeus “destruíram a Líbia”.
O governo dos Estados Unidos foi criticado em vários momentos do discurso. O evento para celebrar os 44 anos de revolução sandinista terminou com fogos de artifício. Ortega liderou o governo sandinista na década de 1980 e retornou ao poder em 2007. A Nicarágua é alvo de sanções dos Estados Unidos e da UE devido ao tratamento reservado aos opositores desde os protestos de 2018. Ortega alega que os protestos foram uma tentativa de golpe de Estado patrocinada por Washington. Alguns líderes sandinistas que participaram da revolução de 1979 compareceram aos protestos de 2018 e foram alvos de sanções do governo, incluindo a expatriação, retirada da nacionalidade e confisco de bens.