Segundo especialistas, temperaturas noturnas são mais perigosas para a saúde do que as diurnas; termômetros no hemisfério norte registram há dias mais de 40ºC, com alguns lugares ultrapassando os 50ºC.
A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou nesta terça-feira, 18, que as ondas de calor vão ser cada vez mais intensa e o mundo deve se preparar para elas. “Estes eventos continuarão crescendo em intensidade, e o mundo precisa se preparar para ondas de calor mais intensas”, declarou John Nairn, especialista em calor extremo da Organização Meteorológica Mundial (OMM), vinculada à ONU. “O fenômeno El Niño, recentemente declarado, vai apenas amplificar a incidência e intensidade de ondas de calor extremas”, acrescentou em um encontro com imprensa em Genebra. O hemisfério norte sofre há dias com as altas temperaturas. A Europa, o continente com o ritmo de aquecimento mais rápido do mundo, pode registrar recordes de temperatura na ilha italiana da Sardenha. O recorde atual no continente são os 48,8°C registrados na Sicília em 2021, confirmou na segunda-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU. “Pode ser quebrado nos próximos dias”, alertou a agência espacial europeia. Na Espanha, são esperadas temperaturas entre 38ºC e 42°C em grande parte do centro da Península Ibérica, mas poderiam alcançar 43ºC ou 44°C no leste do país, nas regiões da Catalunha, Aragão e Baleares, segundo a Agência Estatal de Meteorologia (Aemet).
Atualmente, o hemisfério norte sofre seis vezes mais ondas de calor do que na década de 1980. Em locais em que supera os 45ºC, as temperaturas podem permanecer por volta dos 40ºC à noite, o que é mais perigoso para a saúde do que a temperatura diurna, segundo alertou nesta terça um especialista da OMM. “As temperaturas noturnas são particularmente perigosas para a saúde humana porque o corpo é incapaz de se recuperar do calor permanente, levando a um aumento de ataques cardíacos e mortes”, disse o especialista em calor extremo da organização, John Nairn. Segundo os pesquisadores, as ondas de calor estão entre as ameaças climáticas mais mortais. Estima-se que no verão passado causaram mais de 60 mil mortes somente na Europa. “E acredita-se que este número seja conservador”, frisou Nairn, que refletiu sobre o fato de que isso está acontecendo na região com um dos mais avançados sistemas de alerta climático precoce, “com o que podemos imaginar quais seriam os números no resto do mundo”.
Nos Estados Unidos, mais de 80 milhões de pessoas estavam sob o alerta de uma onda de calor “opressiva” no sul e oeste do país. No famoso Vale da Morte, na Califórnia, um dos lugares mais quentes do planeta, a temperatura oficial atingiu 52°C no domingo. Vários incêndios também afetam o sul do estado e já destruíram quase 3.200 hectares. Vários moradores foram obrigados a abandonar suas casas. No Canadá, mais de 10 milhões de hectares foram destruídos por incêndios desde o início do ano. Na segunda-feira, 882 focos permaneciam ativos, incluindo 579 considerados fora de controle. Dois bombeiros morreram em serviço.
As altas temperaturas também desencadearam incêndio. Cerca de 3.500 hectares queimaram em La Palma, segundo autoridades locais, e 4.000 habitantes foram evacuados, embora muitos já voltaram para suas casas. Os bombeiros combatem um grande incêndio florestal desde sábado. Também na Grécia, os bombeiros lutavam pelo segundo dia seguido contra incêndios na região de Atenas. O mais violento queimava a floresta de Dervenochoria, 50 quilômetros ao norte da capital, onde 147 agentes trabalhavam com a ajuda de seis bombardeiros de água e um helicóptero. Em outro ponto, a região de Kouvaras, 40 km a leste de Atenas, um incêndio declarado na segunda-feira se propagou para as localidades costeiras de Anavyssos, Lagonissi e Saronida, frequentadas por veranistas atenienses, e queimou várias casas.
Até mesmo a Suíça foi afetada por estas condições excepcionais. Mais de 200 pessoas ameaçadas por um importante incêndio foram evacuadas no sul do país, devido às chamas declaradas na segunda-feira em Bitsch. “Estas situações continuarão aumentando em intensidade, e o mundo precisa se preparar para ondas de calor mais intensas”, afirmou à imprensa em Genebra um especialista da Organização Meteorológica Mundial (OMM), John Nairn. O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, alertou que os “fenômenos meteorológicos extremos têm importantes repercussões na saúde humana, nos ecossistemas, na economia, na agricultura, na energia e no abastecimento de água”. Ele insistiu na urgência de reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
*Com agências internacionais