Procedimento será gradual e deve prosseguir até a década de 2050; China, Coreia do Sul e Coreia do Norte criticaram o plano classificando-o como ‘extremamente egoísta e irresponsável’
Em meio a preocupação de pescadores e da ferrenha oposição da China, que intensificou as restrições comerciais a produtos nipônicos, o Japão iniciou nesta quina-feira, 24, a despejar no oceano água residual da usina nuclear de Fukushima. Minutos após o anúncio do início da operação, os chineses decidiram suspender todas as importações de produtos do mar procedentes do Japão e chamou o plano de Tóquio de “extremamente egoísta e irresponsável”. Pequim já havia interrompido todas as importações de alimentos de 10 dos 47 municípios japonesas em julho. Hong Kong e Macau adotaram a mesma iniciativa. O líquido despejo equivale a quase 540 piscinas olímpicas e é uma etapa importante para desmantelar a usina, ainda muito perigosa 12 anos após um dos piores acidentes nucleares da história. O plano do Japão foi autorizado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU, que supervisiona o processo, que, na sua opinião, está de adequado às “normas de segurança internacionais” e terá um impacto “insignificante para a população e o meio ambiente”.
A TEPCO garante que a água passou por um tratamento para eliminar todas as substâncias radioativas, exceto o trítio, que está em níveis inócuos e muito inferiores aos liberados por centrais nucleares em operação, incluindo as usinas da China. A concentração de trítio na água residual preparada para este primeiro despejo estava “muito abaixo do limite operacional de 1.500 bequerel (Bq) por litro”, afirmou a AIEA após uma “análise independente feita no local”. Este nível é 40 vezes inferior às normas japonesas para águas tratadas e às normas internacionais (60.000 Bq/litro), além de sete vezes menor que o limite máximo estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a água potável (10.000 Bq/litro). “Quando for liberado no Pacífico, o trítio será diluído em uma vasta massa de água e atingirá rapidamente um nível de radioatividade que não difere da água do mar normal”, disse Tom Scott, especialista da Universidade de Bristol, na Inglaterra. “Portanto, representa um risco muito pequeno. E o risco diminui com o tempo porque o nível de trítio diminui continuamente”, acrescentou.
Não foi só a China que se opôs ao plano japoneses. Na Coreia do Sul, o despejo de água residual da usina nuclear gerou protestos e muita preocupação entre a população, mas o governo expressou apoio ao plano do Japão. Os dois países iniciaram uma aproximação após décadas de distanciamento. O primeiro-ministro sul-coreano Han Duck-soo pediu ao governo japonês que divulgue as informações do despejo de água “de forma transparente e responsável durante os próximos 30 anos”. Manifestações foram registradas nesta quinta-feira e mais de 10 pessoas foram detidas em Seul depois que tentaram invadir a embaixada do Japão. A Coreia do Norte exigiu que o Japão interrompa a operação, segundo um comunicado do ministério das Relações Exteriores publicado pela agência estatal KCNA.
Antes da operação, várias pessoas protestaram diante da usina nuclear de Fukushima e mais de 100 na sede da TEPCO, em Tóquio. O grupo ambientalista Greenpeace afirmou que o processo de tratamento da água é falho. China e a Rússia sugerem que a água pode evaporar e atingir a atmosfera. Os restaurantes de sushi em Pequim e Hong Kong já sofrem as consequências das restrições de importações. Analistas apontam que a China, embora possa ter preocupações genuínas com a segurança, também pode estar sendo motivada por sua rivalidade econômica e sua relação complicada com Tóquio. A operação de despejo será gradual e deve prosseguir até a década de 2050.
*Com informações da AFP