Projeções mostram que indianos vão ter quase três milhões que habitantes a mais do que atual líder do ranking; mudança pode alterar o panorama internacional.
A Índia deve superar a China até o meio do ano de 2023 e se tornar o país mais populoso do mundo, apontam as últimas projeções da Organização das Nações Unidas (ONU), publicadas nesta quarta-feira, 19. Caso a previsão se concretize, os indianos devem ficar nesta posição por séculos. Segundo estimativas da ONU, a Índia terá 1,429 bilhão de habitantes até meados deste ano, quase três milhões de habitantes a mais que a China. Em 2022, o Escritório Nacional de Estatísticas chinês revelou que no final de 2022 anos houve uma queda populacional – a primeira registrada desde 1960-1961, quando a fome causou milhões de mortes devido a vários erros na economia política do “Grande Salto para Frente”. Enquanto a China publica anualmente esses números – em 2022 eram 1,412 bilhão de habitantes -, a Índia não realiza um censo populacional desde 2011. Na época, o país contava 1,21 bilhão de habitantes.
As certidões de nascimento não eram obrigatórias até 1969 na Índia, e o censo, feito a cada 10 anos, que deveria ter sido feito em 2021, porém, foi adiado por conta da pandemia da covid-19. Além disso, vários problemas logísticos afetaram a pesquisa. O trabalho detalhado vai em todas as portas e reúne informações sobre religião, língua materna e nível de alfabetização. O governo do primeiro-ministro nacionalista hindu, Narendra Modi, foi acusado pela oposição de adiar deliberadamente o censo para não ter que publicar dados sobre questões delicadas – como o desemprego – antes das eleições nacionais do próximo ano.
Em 1970 a Índia organizou suas próprias campanhas de esterilização e planejamento familiar, incluindo uma especialmente polêmica contra homens. Apesar dos riscos à saúde, a esterilização feminina é o método anticoncepcional mais popular na Índia. Mesmo com o método de prevenção, as taxas de fertilidade na Índia continuam superiores às do vizinho do norte, resultando em uma população muito mais jovem e, agora, maior: 650 milhões de indianos têm menos de 25 anos. Por outro lado, a China adotou medidas decisivas para frear o crescimento demográfico em 1980, impondo a polícia do filho único. Desde 2021, os chineses podem ter até três filhos.
Nova Délhi e Pequim competem por influência na Ásia e no panorama internacional. O status de país “mais populoso do mundo” poderia reforçar a Índia como potência em ascensão, cortejada pelo Ocidente para conter a influência da China. Esse domínio demográfico poderia servir de argumento para Nova Délhi conquistar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU, almejado pela Índia há muito tempo. O país tem mais habitantes do que os quatro membros permanentes do Conselho de Segurança juntos – Estados Unidos, Rússia, França e Reino Unido – que compõem a organização junto com a China. Entretanto, responder às necessidades de uma população tão grande apresenta grandes desafios, especialmente no âmbito do meio-ambiental e da infraestrutura. Uma força de trabalho abundante e jovem traz, no entanto, vantagens econômicas. A Índia é a grande economia que mais cresce no mundo e já ultrapassou o Reino Unido como o quinto país mais rico em termos de Produto Interno Bruto (PIB).