Partidos pró-democracia vencem eleição da Tailândia, mas militares ainda podem seguir no poder

Novo primeiro-ministro será escolhido conjuntamente pelos 500 deputados eleitos da Câmara Baixa e pelos 250 membros do Senado designados pela junta do atual premiê, o que favorece o exército.

O partido progressista Move Forward, conseguiu um resultado histórico na eleição legislativa da Tailândia que aconteceu no domingo, 15, e poderá formar uma coalizão para afastar do poder os generais que governam o país há quase dez anos. Ele conseguiu 151 das 500 cadeiras da Câmara Baixa, segundo as últimas estimativas, à frente de Pheu Thai (141 deputados), a outra grande força da oposição. As eleições registraram uma participação recorde de 75% e o Move Forward, autoproclamado como a voz da geração mais jovem, concorreu com um programa reformista em linha com as manifestações massivas de 2020, que exigiam uma reforma da monarquia. Ele recebeu mais de 14 milhões de votos, superando o Pheu Thai (10,8 milhões), outro partido de oposição. “Era o momento certo, as pessoas suportaram demais […] Hoje é um novo dia e espero que traga luz do sol e esperança”, disse Pita Limjaroenrat, de 42 anos, que concorre ao cargo de primeiro-ministro. O partido Nação Tailandesa Unida (UTN) do atual primeiro-ministro, Prayut Chan-O-Cha – que dissolveu o Parlamento em março, o que desencadeou nas eleições de domingo -, ficou muito atrás, em quinto lugar, com apenas 36 cadeiras, após permanecer nove anos no poder por um golpe em 2014.

As complexas normas eleitorais obrigam os partidos da oposição a formar uma grande coalizão para ter acesso ao poder, então todos os cenários estão sobre a mesa. A história recente da Tailândia, que já viveu uma dúzia de golpes de Estado desde o fim da monarquia absoluta em 1932, tem sido marcada por uma sucessão de intervenções do exército e da Justiça em nome do respeito pelas instituições. Uma dinâmica com a qual a Move Forward quer acabar. Pita Limjaroenrat estendeu a mão à líder do Pheu Thai, Paetongtarn Shinawatra, para formar uma aliança de seis partidos. A filha do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, no exílio, respondeu favoravelmente, abrindo caminho para constituir uma maioria 309 das 500 cadeiras da Câmara Baixa.

Ambos concordam que a economia tailandesa exige reformas, mas discordam em várias questões sociais, como o artigo que prevê punições severas para o crime de lesa-majestade, texto que, segundo seus críticos, tem sido perversamente utilizado para reprimir qualquer voz dissidente. O novo primeiro-ministro será escolhido conjuntamente pelos 500 deputados eleitos da Câmara Baixa e pelos 250 membros do Senado designados pela junta de Prayut, o que favorece o exército. Assim, a oposição precisa de 376 cadeiras para contra-atacar a influência dos senadores, enquanto o lado pró-militar teria maioria garantida com apenas 126 deputados. Graças a esse sistema, considerado parcial por organizações de direitos humanos, o ex-general Prayut (69 anos) conseguiu permanecer no poder nas eleições de 2019, à frente de uma complexa coalizão multipartidária. Mas, depois dessa derrota, seu futuro político parece incerto.

*Com informação da AFP